segunda-feira, 12 de agosto de 2019

PARA NOVAMENTE SURPREENDER O BRASIL

   Disputar uma semifinal de Copa do Brasil é mais um feito importante que escancara a boa fase que vive o Clube Athletico Paranaense. Para se ter noção da importância dessa competição, é apenas a segunda vez do clube nessa fase do torneio (foi vice em 2013) e equipes grandes como São Paulo e Botafogo também nunca conquistaram o título. Nesta edição, o Furacão entrou nas oitavas por ter participado da Libertadores e chega à essa semifinal após eliminar Fortaleza e Flamengo. O adversário que tem pela frente é nada mais que o "Rei de Copas", Grêmio, 5 vezes campeão do torneio, atrás apenas do Cruzeiro, maior vencedor com 6 títulos.


O ADVERSÁRIO

   Com 3 anos de Renato Gaúcho no comando técnico, o Grêmio possui um dos trabalhos mais sólidos do Brasil. Desde 2016, ano da chegada do treinador, conquistou Copa do Brasil, Libertadores, Campeonato Gaúcho e Recopa Sulamericana. Em 2019, Renato vem tentando se reinventar para achar a equipe ideal para seus jogos importantes e, mesmo com as dificuldades e a irregularidade da equipe durante a temporada, o Grêmio ainda está vivo na Libertadores, foco principal do clube, e na Copa do Brasil.
Para este primeiro jogo, em casa, o Grêmio deve tentar exercer pressão no Athletico, principalmente nos minutos iniciais. Marcação alta e muito forte na saída de bola e um time que vai tentar ter mais posse de bola, sendo essa uma posse bastante vertical, controlando o jogo a partir dela. A equipe segue sempre um padrão de como construir seu jogo. Começa de maneira bem posicional mas que, ao decorrer do jogo, usa uma variação interessante de construção. A grande diferença das duas maneiras de construção é o posicionamento de Maicon e Matheus Henrique. Tem momentos em que ficam mais centralizados e começam a jogada a partir dalí mesmo, caracterizando um ataque mais posicional. Por outros momentos, eles abrem na posição dos laterais que avançam gerando muita profundidade, essa maneira de construção dá mais liberdade para Jean Pyerre e os pontas receberem a bola mais por dentro. Porém, independente de qual maneira de construção usada, o posicionamento dos outros jogadores são sempre os mesmos. Jean Pyerre sendo a solução como meia após o declínio físico e técnico de Luan, achando bem os espaços entrelinhas pelo centro e, cada vez mais, buscando e gerando jogo mais na base da jogada. Os pontas Everton e Alisson alternam com os laterais, jogando hora mais por dentro, hora mais aberto. Na frente, o titular André deve perder espaço para Diego Tardelli, que dá mais movimentação ao ataque do time gaúcho.

Construção padrão de um jogo mais posicional do time gremista. Maicon e Matheus Henrique construindo a partir do centro.


Variação de construção do time gremista com Maicon e Matheus Henrique começando a jogada da ponta para dentro; laterais geram profundidade e amplitude; mais espaço para o jogo por dentro, potencializando Jean Pyerre.



PONTOS FRACOS

   Apesar de bem treinado e classificado nas competições importantes até aqui, o Grêmio em 2019 é, em desempenho, o pior desde 2016. Mesmo com Jean Pyerre mostrando muito talento e potencial, a equipe perde muito com o declínio de Luan, protagonista nos títulos recentes do time. A busca pelo atacante ideal ainda é uma sina para Renato Gaúcho. André é extremamente irregular, Vizeu até fez bons jogos mas machucou e agora Diego Tardelli vem ganhando espaço. Alisson pelo lado direito do ataque não vem tendo desempenho tão bom quanto costumava apresentar. Defensivamente, a dupla Maicon e Matheus Henrique não dão a proteção necessária para a entrada da área, nenhum dos dois é 1° volante e depois da lesão do Michel, essa zona de marcação é um ponto a ser explorado.  Além disso, os ótimos zagueiros Geromel e Kannemann não fazem um bom ano. O Grêmio é um time que sempre confiou muito nos seus zagueiros, que fazem perseguições muito altas nos atacantes adversários, porém a dupla vem num declínio físico absurdo e muitas vezes esses duelos nas perseguições são perdidos. Tirar Marco Rúben da referência para induzir essas perseguições, usando Rony para atacar os espaços deixados é outro ponto importante também. Portanto, o time gremista é muito bem treinado e possui grande qualidade técnica mas não joga um futebol que encanta esse ano, joga pro gasto. Os jogadores de frente estão longe do que já apresentaram e defensivamente possuem deficiencias que não vinham acontecendo em anos anteriores e que, se bem exploradas pelo Furacão, podem ser determinantes.

OLHO NELE! 

Éverton Cebolinha é, certamente, o cara e a grande arma do Grêmio de Renato Gaúcho. O camisa 11 é disparado o melhor jogador atuando no Brasil, hoje. Simplesmente desequilibra jogando aberto pela esquerda com dribles e finalização, suas características principais. Mas cada vez mais vem se tornando um jogador também capaz de realizar um jogo mais curto e associativo. É um ponta de muita qualidade, nível seleção brasileira, onde foi testado e destaque como titular, substituindo Neymar. Foi desejado por muitos clubes da Europa nessa janela mas o Grêmio conseguiu segurar o atleta por mais um tempo. Jonathan vai precisar de muita ajuda e compensação dos outros jogadores rubro-negros para marcar esse belíssimo jogador que precisa de uma atenção especial.




ATHLETICO

O Athletico de Tiago Nunes possui uma missão bastante complicada pela frente. Encarar o Grêmio num jogo de copa, na Arena do Grêmio, não vai ser fácil. Mas, como ressaltou Tiago Nunes, esse elenco do Furacão não cansa de surpreender o Brasil, por que não surpreender novamente? Qualidade e repertório tático para isso tem. É preciso fazer uma partida madura coletiva e individualmente, ligado os 90min de jogo. A única dúvida do treinador segue sendo Nazário ou Nikão como meia. O primeiro dá mais movimentação e velocidade, já o segundo acrescenta mais fisicamente, potencializando os duelos de primeira e segunda bola. Tiago Nunes parece, por enquanto, não cogitar a saída de Marcelo Cirino do time. Testou-o aberto pela direita, pensando em usar o atleta dando profundidade por esse lado, já que do outro Rony costuma cortar pra dentro, mas os poucos toques na bola e a maioria dos duelos perdidos fez o treinador repensar. No último jogo, o posicionamento foi diferente. Usou Marcelo mais centralizado, buscando ter ele e Marco Rúben batendo com os zagueiros, mas a falta de qualidade de jogo curto do camisa 10 também não resultou num bom jogo individual dele. Esperamos que Tiago Nunes repense e nos surpreenda escalando Nikão aberto e Nazário por dentro, deixando o time mais solto, porém não me parece que irá acontecer para esse primeiro jogo.
Independentemente da escalação, o Athletico só conseguirá trazer um bom resultado de Porto Alegre se sua postura em campo for digna para isso. O time precisa, individualmente, estar 100% ligado mentalmente e não ceder à pressão que será exercida pelo time e torcida do Grêmio. Com isso realizado, o jogo técnico e tático de cada um certamente irá aparecer. Se o time quer conquistar a vaga para a final desse torneio importante, deve jogar como time grande e maduro. Apostar no seu estilo de jogo, marcando forte sem a bola e, quando tiver a posse, saber dosar o momento de acelerar para armar um contra-ataque e o momento de trocar passes e fazer o adversário correr atrás da bola. O Furacão só sai de lá com um bom resultado se conseguir se impor diante das dificuldades que aparecerão. Será necessário tirar o Grêmio da sua zona de conforto e não deixar com que o time gaúcho tenha o domínio da partida. Recursos táticos, técnicos, físicos e mentais o Athletico tem. Só precisa conseguir usá-los. Usando-os, o céu é realmente o limite para nossa equipe. PRA CIMA ATHLETICO!






Texto de Rapha Cordeiro. @hcrapha on twitter